A Polícia Civil do Estado de São Paulo concluiu as investigações da Operação “Elo Quebrado” e obteve novo decreto de prisão preventiva contra o líder de organização criminosa especializada em receptação de veículos e lavagem de dinheiro que atuava na região de Barretos. O investigado, homem de 40 anos, foi preso em flagrante na última segunda-feira (29) na cidade de Catanduva enquanto negociava a venda de componentes automotivos provenientes de roubo praticado com emprego de fuzis.
O investigado, que havia conseguido judicialmente o direito de responder ao processo em liberdade, foi surpreendido pelos policiais civis no momento em que se dirigia à uma empresa em Catanduva para receber o pagamento pela venda de carga avaliada em mais de trinta mil reais. Segundo apurado, os componentes de embreagem e tambores de resina eram provenientes do roubo de caminhão VW/24.280 ocorrido no dia 19 de agosto de 2025 na capital paulista, crime praticado por pelo menos cinco indivíduos fortemente armados com fuzis em prejuízo de uma empresa de autopeças.
A prisão representa desdobramento significativo das investigações iniciadas em abril de 2023 pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Barretos, que culminaram na deflagração da Operação “Elo Quebrado” em junho deste ano. O trabalho teve início quando operação policial de combate a furtos e roubos de veículos levou à descoberta de desmanche clandestino em área rural da Rodovia Assis Chateaubriand, onde funcionava o estabelecimento comandado pelo investigado. Na ocasião, foram encontrados diversos chassis de caminhão com numerações suprimidas, cabines com plaquetas identificadoras arrancadas, vidros com sinais removidos por abrasão e grande quantidade de peças automotivas produto de crime, incluindo cargas de ração e cera provenientes de roubos registrados em diferentes regiões do Estado.
As investigações conduzidas pela DIG de Barretos revelaram sofisticada estrutura criminosa organizada em núcleos específicos, tendo o investigado de 40 anos como líder responsável pelo comando operacional do desmanche clandestino. A organização contava ainda com sua esposa de 35 anos atuando como operadora jurídica que emprestava nome para empresas fictícias, além de braço financeiro especializado em lavagem de dinheiro operado por outras três pessoas, incluindo mulher de 61 anos, homem de 39 anos e sua companheira de 37 anos.
A análise técnica realizada pelo Laboratório de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil identificou movimentação financeira total de aproximadamente treze milhões e novecentos mil reais entre os investigados no período de 2018 a 2023. O relatório apontou que cerca de onze milhões e quinhentos mil reais dessa movimentação não possuíam origem declarada, caracterizando sofisticado esquema de ocultação patrimonial. Foram identificadas diversas técnicas típicas de lavagem de dinheiro, incluindo operações incompatíveis com a capacidade econômica dos investigados, depósitos em espécie sem identificação da origem, utilização de pessoas interpostas para ocultar patrimônio, inconsistências graves nas declarações à Receita Federal e fragmentação de valores para dificultar rastreamento.
Em junho deste ano, a Operação “Elo Quebrado” resultou no cumprimento de cinco mandados de prisão temporária e diversos mandados de busca e apreensão. As prisões ocorreram em diferentes bairros da cidade, sendo uma mulher de 61 anos detida no bairro Monte Alegre, uma mulher de 37 anos presa no bairro San Diego, o líder de 40 anos e sua esposa de 35 anos presos na área rural onde funcionava o desmanche, além de homem de 39 anos que já estava recolhido no Presídio de Frutal em Minas Gerais. Durante a operação, o estabelecimento foi lacrado pelo DETRAN em razão de irregularidades constatadas.
A continuidade das atividades criminosas do líder da organização restou demonstrada também pela localização, na mesma operação, de baú frigorífico e dezenas de caixas plásticas provenientes de furto de caminhão ocorrido em Hortolândia no mês de maio. O material foi encontrado em imóvel contíguo ao desmanche operado pelo investigado, evidenciando que, mesmo após sucessivas operações policiais, o grupo mantinha suas atividades de receptação.
Com a conclusão das investigações, o Relatório Final de Inquérito Policial foi apresentado à Justiça, indicando os cinco investigados pela prática dos crimes de organização criminosa armada e lavagem de dinheiro. O líder da organização responde ainda por dois crimes de receptação qualificada, referentes ao baú frigorífico localizado em junho e aos componentes de embreagem que motivaram a prisão em flagrante de segunda-feira. Por determinação judicial, mantém-se o bloqueio de bens, direitos e valores no montante de mais de onze milhões de reais, correspondente ao patrimônio estimado sem origem declarada.
Em razão da nova prisão em flagrante e das circunstâncias que demonstram a reiteração delitiva, a Delegacia de Investigações Gerais de Barretos representou pela conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva do líder da organização criminosa, representação que foi acolhida pelo Poder Judiciário. O investigado encontra-se atualmente recolhido em estabelecimento prisional à disposição da Justiça.
Os crimes de organização criminosa armada e lavagem de dinheiro, somados às receptações qualificadas, podem resultar em penas que, se houver condenação, podem superar vinte anos de reclusão. A caracterização da organização criminosa como armada decorreu das apreensões de arma de fogo e munições realizadas durante as investigações, bem como da constatação de que os veículos receptados eram produtos de roubos praticados com emprego de armas de fogo, incluindo o recente episódio envolvendo fuzis.
As investigações demonstraram que a organização criminosa mantinha atuação continuada na prática de furtos e roubos de veículos e cargas na região de Barretos e adjacências, bem como em outras regiões do Estado de São Paulo, operando com sofisticação e planejamento que evidenciavam expertise técnica e estrutura física adequada para transformar rapidamente os veículos subtraídos em peças comercializáveis. A Polícia Civil reforça que a operação representa importante avanço no combate ao crime organizado na região, tendo desarticulado esquema sofisticado que atuava há anos no ramo da receptação e lavagem de dinheiro.
Fonte: JB Notícias
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