Em 2025, a Companhia Hecatombe comemora seus 20 anos com ØDISSE.IA, espetáculo itinerante baseado na obra clássica Odisseia, de Homero, que será apresentado no dia 19 de outubro, às 19h, na Escola Municipal Nice Beolchi Nunes Ferreira, com entrada gratuita, classificação indicativa de 16 anos e sessão acessível com tradução em Libras. A montagem oferece ao público uma experiência cênica em que as personagens exploram os limites do espaço urbano e questionam o próprio conceito de espaço cênico.
Segundo Homero Kaneko, o novo trabalho da companhia não segue uma narrativa linear tradicional e narra a jornada de Ulisses, um herói mambembe, que, em busca de sua casa, percorre diferentes espaços urbanos, refletindo sobre a masculinidade, a guerra e os dilemas do Brasil atual.
"A escrita se ancorou na fragmentação dos episódios desse imenso poema que é a Odisseia. Eu não queria que esse texto fosse uma cópia do original, mesmo porque é uma leitura de difícil compreensão.", explica Kaneko. "Escolhi algumas passagens para enfatizar, não há obrigação com a história exatamente como aparece em Homero, mas inspiração e adaptação dessas passagens para podermos falar do nosso mundo atual".
O Trajeto do Herói
A trama de ØDISSE.IA coloca Ulisses, interpretado por Ícaro Negroni, em uma travessia simbólica, onde o mar cede lugar à estrada e a ideia de jornada se mistura ao cotidiano das cidades. O herói, perdido em ideais de um passado distante, caminha entre diferentes mundos e figuras. Calipso, interpretada por Lari Luma, surge como uma crítica ao mercado de arte, personificando a figura da produtora cultural que seduz e aprisiona o artista em uma lógica de valorização imposta. Já Zeus, interpretado por Jaqueline Cardoso, surge no último ato como a força que altera o destino do herói e conduz o público a um grande show, encerrando a jornada do protagonista.
Além de sua proposta cênica, ØDISSE.IA também se destaca pela interação entre o corpo do ator e a cidade. A rua, como espaço de convivência e circulação, é incorporada à cena, com o ator se relacionando diretamente com o ambiente urbano, criando uma experiência de imersão para o público.
O diálogo do Neogrotesco com projeções
Em ØDISSE.IA, a tecnologia assume um papel central, com o uso de projeções e mapeamento de vídeo, inserindo uma dimensão digital à cena. Essa interação entre tecnologia e performance é uma das marcas do trabalho da companhia, que busca explorar o potencial da tecnologia no teatro sem perder a essência do encontro humano.
A peça utiliza projeções e mapeamento de vídeo para criar uma experiência imersiva, onde a tecnologia e o corpo do ator se encontram, ampliando o potencial performático e proporcionando ao público uma nova maneira de vivenciar o teatro.
A companhia é marcada pela constante busca por novas formas de interação com o público e pela exploração de diferentes linguagens teatrais. O diretor apresenta neste novo trabalho a continuação da pesquisa sobre o neogrotesco que a companhia vem levantando desde 2009, um conceito que se apropria de elementos tecnológicos, midiáticos e grotescos para criar uma crítica social e cultural.
Para o diretor, estes momentos que demarcam trajetórias, são bem-vindos para repensar rotas e recalcular percursos, foi então que ele se deu conta que há semelhanças entre o mito de Ulisses e a companhia. "Olhando pelo retrovisor, são 20 anos de estrada, os mesmo 20 anos que Ulisses demora em sua travessia de volta pra casa. A missão da Companhia Hecatombe, que se elaborou nesse balaio de tempos, justamente na transitoriedade do mundo analógico para o digital, é contestar esse presente, esse momento e as práticas dele. Continuaremos por reconfigurar os dispositivos, a beber da fonte dos mestres e mestras acessíveis, dos saberes ancestrais, a pactuar com a decolonialidade, a reconfigurar as tradições. Tudo isso na tentativa de criar, fabular e imaginar futuros possíveis. ØDISSE.IA vem para materializar nosso devir cênico: é nosso ontem; é nosso hoje; é nosso amanhã", finaliza.
A acessibilidade também é uma prioridade na realização do espetáculo com recursos de LIBRAS na sessão. O projeto é itinerante e foi pensado para ser inclusivo, com o objetivo de garantir que todas as pessoas, independentemente de suas condições, possam vivenciar a experiência teatral.
Segundo Kaneko, a montagem é um reflexo do desejo da companhia de explorar a rua e a cidade como palco. "A ideia de sair do edifício teatral é antiga, um flerte antigo do neogrotesco. Dessa vez, o espetáculo já nasce com essa proposta, de olhar pro mobiliário urbano, de ocupar com teatro espaços não convencionais, mesmo aqueles que são públicos. O conceito de neogrotesco, que permeia nosso trabalho, ganha nova profundidade ao interagir diretamente com o espaço e o público", finaliza o dramaturgo.
Sobre a Companhia Hecatombe
A Companhia Hecatombe foi fundada em 2005 e, desde então, tem se dedicado a uma incessante pesquisa cênica, explorando novas formas de interação com o público e se desafiando em obras não-convencionais. Com uma proposta de investigação sobre o neogrotesco e a fusão de elementos tecnológicos com a arte cênica, a companhia busca constantemente novas formas de expressão, sem perder a crítica e a irreverência que marcaram sua trajetória.
Ao longo dos anos, a Companhia Hecatombe apresentou trabalhos que fazem o público refletir sobre assuntos emergentes e contemporâneos, sempre misturando linguagens e referências. Kaneko comenta que ØDISSE.IA marca um momento de reflexão sobre a trajetória da companhia, seus desafios e conquistas, e também sobre o futuro diante das transformações tecnológicas da sociedade contemporânea.
Este projeto foi realizado com apoio do Programa de Ação Cultural – ProAC, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, e da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) do Ministério da Cultura e Governo Federal.
Serviço
ØDISSE.IA - Companhia Hecatombe
Direção e dramaturgia: Homero Kaneko
Classificação: 16 anos
Dia 19/10, às 19h
Local: Escola Municipal Nice Beolchi Nunes Ferreira
Sessão acessível com tradução em libras.
Grátis.
19 de outubro - Bady Bassitt
23 de outubro - Jales
24 de outubro - Votuporanga
26 de outubro - Mirassolândia
Sinopse
Em sua ØDISSE.IA, a Companhia Hecatombe ganha as ruas como palco e imagina-se, tal qual Ulisses na Odisseia de Homero, fazendo um longo retorno às suas origens. Pelo caminho, narra sua trajetória de 20 anos, cheia de percalços e desafios desde a Troia, representada pelo sentimento de terra arrasada vivido no Brasil dos últimos anos, até a ilha de Ítaca – o interior –, colonizada agora por conservadores e observada com desdém por grands marchands, ditadores da boa arte (que é feita lá fora e na Capital). O pano de fundo alegórico é uma licença poética para falar sobre colonialidade, desvalorização do artista de teatro e para dar contorno à personagem principal do espetáculo, Ulisses, perdido em seu ideal ultrapassado de masculinidade e guerra. Entre os mundos, clássico e contemporâneo, Atena, a deusa da Inteligência (Artificial).
Ficha Técnica
Dramaturgia e direção: Homero Kaneko
Elenco: Ícaro Negroni, Jaqueline Cardoso e Lari Luma
Orientação do jogo na rua: Fernando Yamamoto
Diálogo teórico-estético: Alexandre Mate
Orientação Vocal: Everton Gennari
Figurino: Araíne
Visagismo: Gaia do Brasil (supervisão), Liliana Musegante e Nathália Vançan
Maquiador: Márcio Merighi
Painéis (tapetes): Stan Bellini
Coordenação de produção: Clara Tremura
Produção técnica e videografismo: Rafael Rodrigues
Produção ações de acessibilidade: Mariana Gagliardi
Op. de áudio: Márcio Santana
Op. de iluminação: Mabel Louíze
Audiodescrição: Daniela Honório e Fabiana Pezzotti
Assessoria em LIBRAS: A dona legenda (Thaisy Rodrigues)
Assistência de produção: Beatriz Tremura
Assessoria de Imprensa: João Vitor Boni
Assessoria digital e de produção: Giulia Midi
Assessoria de comunicação: Jean Ferrari
Assistente de palco e técnico: Gabriel Henrique Ladeia
Assistente técnico: Eliezer Santos Silva
Assistentes de apoio e limpeza: Brenda Cristina da Silva Prachedes e Vinícius Eduardo da Silva Costa
Equipe de Segurança: FAZSEG
Fonte: João Vitor Boni
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